Varicocele é a condição clínica mais associada à infertilidade masculina e sua principal
característica é a dilatação anormal das veias testiculares. Essa alteração ocorre
principalmente do lado esquerdo, mas também pode afetar os testículos de forma bilateral,
tornando o ambiente desfavorável para a produção e a qualidade dos espermatozoides.
Os testículos são as gônadas masculinas, isto é, os órgãos responsáveis pela produção das
células sexuais — nesse caso, os espermatozoides. A testosterona, principal hormônio
masculino, também é produzida pelos testículos e tem papel fundamental no processo de
espermatogênese.
Para manter a temperatura adequada e garantir as condições ideais de funcionamento, os
testículos ficam fora do corpo, protegidos pela bolsa escrotal e beneficiados por sua função
termorreguladora. Contudo, a varicocele interfere na oxigenação testicular e provoca o
aumento da temperatura local.
Isso ocorre porque as veias do cordão espermático, responsáveis pela drenagem sanguínea
dos testículos, não funcionam corretamente, ocasionando falhas no retorno venoso. Dessa
forma, há menos sangue oxigenado circulando, o que eleva a temperatura e aumenta a
toxicidade na bolsa escrotal.
O que causa a varicocele?
A varicocele é principalmente causada pelo funcionamento ineficiente das válvulas venosas do cordão espermático ou pela ausência congênita dessas válvulas. Falhas no sistema antirrefluxo também podem provocar o fluxo retrógrado na veia testicular e resultar na formação das varizes. Outra causa possível é a compressão ou obstrução do cordão espermático.
Quanto à infertilidade causada pela varicocele, isso pode ocorrer por vários mecanismos e os
principais são: redução da irrigação sanguínea nos testículos e epidídimos; hipertermia;
hipóxia; estresse oxidativo; prejuízos na produção de testosterona. Devido a essas alterações,
homens com varicoceles clinicamente significativas podem apresentar baixa contagem de
espermatozoides, além de motilidade e morfologia anormais.
A varicocele tem sintomas?
A doença é assintomática na maioria dos casos. O caráter silencioso da varicocele é um
agravante, pois a função testicular pode estar alterada sem dar sinais do problema. Sendo
assim, o homem deve estar atento às mínimas alterações, além de consultar um especialista
regularmente para detectar essa e outras condições de forma precoce.
Pacientes com quadros mais graves relatam os seguintes sintomas de varicocele:
veias dilatadas nos testículos, visíveis sob a pele ou sentidas por palpação;
dor de intensidade variável, que pode se agravar quando o homem permanece muito
tempo em pé ou faz esforço físico;
incômodo e sensação de peso nos testículos;
assimetria testicular, quando a doença atinge somente um lado.
Como a varicocele é diagnosticada?
A avaliação clínica com exame físico normalmente já obtém os dados necessários para o
diagnóstico. Contudo, alguns exames complementares podem ser solicitados para confirmar o quadro, sobretudo em casos de retração dos testículos ou parede escrotal espessada.
O exame físico é feito com o homem em pé e preferencialmente em sala aquecida, uma vez
que a exposição ao frio pode provocar a retração do saco escrotal. Durante a avaliação, o
paciente realiza um teste clínico chamado manobra de Valsalva, que consiste em forçar a
expiração contra a boca e o nariz tampados. Isso ajuda a forçar a musculatura da região
abdominopélvica e evidenciar o volume das veias testiculares.
Com os achados do exame físico, a doença é classificada como:
varicocele grau I (pequenas) — sentidas por palpação somente com a manobra de
valsalva;
varicocele grau II (médias) — palpáveis com facilidade, sem necessidade da manobra;
varicocele grau III (grandes) — facilmente palpáveis, além de serem visíveis sob a
pele.
Alguns pacientes podem ainda desenvolver varicocele subclínica, isto é, não identificada pelo
exame clínico. Assim, a ultrassonografia da bolsa testicular com Doppler é indicada para um
diagnóstico conclusivo. Outros exames complementares são a venografia e a termografia,
embora tais indicações não sejam rotineiras. O espermograma e o teste de fragmentação do
DNA espermático também são importantes para avaliar os prejuízos na quantidade e na
qualidade dos espermatozoides.
Como é o tratamento de varicocele?
O tratamento de varicocele depende de alguns fatores e a correção por ligadura cirúrgica é
indicada quando:
as veias varicosas são palpáveis, sintomáticas e causam incômodo significativo ao
paciente;
o casal tem infertilidade conhecida, mas os exames da mulher não revelam alterações;
o homem apresenta anormalidades espermáticas.
A correção cirúrgica de varicocele pode ser realizada por diferentes técnicas, sendo a
microcirurgia subinguinal a mais indicada. A embolização percutânea é outra opção de
tratamento, considerada eficaz quando há recidiva da doença após a abordagem cirúrgica.
O que fazer em casos de varicocele e infertilidade?
A maioria dos pacientes apresenta melhora nos parâmetros seminais após a ligadura cirúrgica.
No entanto, a normalização do processo de espermatogênese pode demorar meses. Por vezes, a fertilidade masculina não é totalmente restaurada.
Os casais que querem melhorar suas chances de engravidar optam pelas técnicas de
reprodução assistida. Quando há fatores masculinos, a fertilização in vitro (FIV) com injeção
intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI) é a melhor indicação.
Pacientes que desenvolveram azoospermia (ausência de gametas no ejaculado) como
consequência de varicocele passam por procedimentos de recuperação espermática. Assim, os espermatozoides são colhidos diretamente dos túbulos seminíferos, nos testículos, por técnicas microcirúrgicas. No momento da fertilização por ICSI, os gametas ainda são analisados por meio de ampliação eletrônica para seleção daqueles com melhor morfologia.
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